Literatura

A ti, Ullysses! (1)

De penélope@odisséia
Para ullysses@troia
Cc dido@cartago.org.it, medéia@cólquida.gr, laodâmia@fenícia.rm

Amado Uly, cá estou novamente chorando as pitangas por tua causa. Acaso esqueceu que tu tem mulher, filhos e empregadas para cuidar? Saiba que a barra aqui em casa tá pesadíssima. Telêmaco, depois que a internet foi instalada aqui, não quer mais saber de outro coisa senão ficar num tal sítio chamado ‘yogurt’. Passa o dia todo adicionando amigos, imagina que ele tá de moderador duma comunidade chamada Tróya. Presta atenção no que to te dizendo a cia telefônica já consumiu com metade do butim que tu tá trazendo... E, como se não bastasse, o velho Laertes se enturmou com um grupo da tal terceira-geração e vai todo dia ao bingo do Heitor, suspeito que ele vai acabar deixando toda a aposentadoria lá. E por falar em aposentadoria, sabe que o novo soberano mudou todos os decretos-reais? Pois é, mas ele tem uma coisa em comum contigo: Vive viajando! E por falar em viajar, sabe que dia desses estiveram me visitando aqui a Dido e a Medéia (não me lembro se já te contei que a Laodâmia se matou e o Jasão abandonou a Medéia para ficar com uma riquinha chata chamada Creúsa? Se bem que não foi por falta de aviso: eu sempre disse a Medéia que o Jasão tinha pinta de ser “galinha”). Pra ti ver, a Medéia me disse que qualquer dia desses vai fazer uma barbaridade que ficará para sempre na história e a Dido só fica repetindo que foi ludibriada por um tal Enéias (acho que é aquele político, mas não tenho bem certeza...). Por ora é isso, mas te digo que se não vieres logo algum pretendente pode querer assumir tua casa e tua mulher.

Kisses da tua Pneh!
PS: Soube que o blog da Helena e do Páris tá fazendo o maior sucesso e já atingiu a marca de um milhão de acessos e scraps.

Publicado no Recanto das Letras em 09/03/2006
(1) Premio Destaque Feira do Livro 2006 (PoA/RS)



Às vezes

Às vezes me vejo nas Estrelas
Banhando-me ao Luar
Aquecendo-me ao Sol

Às vezes me vejo ao Mar
Brincando com Golfinhos
Esconde-esconde nas Ostras
Cancha-reta com Cavalos-marinhos

Às vezes estou nas ruas sozinho
Tantas pessoas em minha volta
Gritando em pensamentos...

Às vezes me vejo sofrendo
Tantas sorrindo, poucas amando...
Mas somente às vezes
Pois tantas outras
Sequer me vejo!

{4ª Antologia de Poetas Brigadianos PolOst, 2003}


Coisas da Vida I

“Lar, doce lar!”
- Olha Tchê, tu não inventa de me dar bolo, hein?
- Mas será que dá pra tu parar com isso? Acaso achas que eu seria capaz de tal vilania? Por que esse medo insistente?
- Não sei, mas é o que estou sentindo, e o que sinto acho que tu deves saber também...
- Tudo bem, tudo bem. Não carece a preocupação, pois eu não vou te abandonar “no altar”, não vai ter essa de anjo vingador...
- Ok, ok, eu vou parar com esse temor bobo, pois bem sei o quanto tu me amas. Até mesmo porque a idéia de nós casarmos não foi somente minha.
- Certo! Até semana que vem, então, quando nos encontraremos lá no cartório com nossas respectivas testemunhas...
- Isso é outra coisa que acho frescura, por que, afinal, não podemos ir juntos, sair aqui de casa direto pro cartório???
- Ah, não! Não vamos começar tudo de novo. Até lá, tchau!
- Tchau, amor!
“Não fume!”
- Senhorita, já está passando dez minutos da hora aprazada. Não podemos esperar mais, visto que há mais casais querendo honrar o compromisso selado...
- Eu sei, eu sei, moça. Mas, por favor! Apenas mais alguns minutos pois eu tenho certeza que meu pretendente vai chegar logo, logo.
- Tudo bem, apenas mais cinco minutos, e depois passaremos para outro ato...
- Eu não posso acreditar que tu vais me fazer isso, eu não quero acreditar naquela história de “Anjo Vingador”, por favor, venha logo. Não faça isso comigo, por favor!
- Srtª., lamento muito, mas vamos ter de passar para o próximo casamento. A juíza não quer mais esperar, sinto muito!
- Desgraçado, vil, maldito sejas! Eu te odeio, te odeio e nunca mais vou querer ver a tua cara na minha frente! Oh, Deus, por que o que eu mais temia teve de acontecer comigo, por quê?
- Acalme-se querida, talvez tenha acontecido alguma coisa que o tenha impedido de chegar aqui. Vamos nos certificar antes. Não fique assim, rancorosa, isso não faz bem ao coração...
- É mesmo, eu não havia pensado nisso. Vamos ligar no celular dele, no serviço dele, para ver se não houve um impedimento involuntário. Será que houve, será que houve???
“esse telefone está fora da área de cobertura ou temporariamente desligado”
- Ta vendo, ta vendo? Esse cachorro me deu bolo, fugiu, me fez pagar o maior mico e ainda não tem coragem de falar comigo! Mas ele me paga, me paga! Ele não perde por esperar eu vou à forra, ah, se vou!
- Te acalma, mulher, tu ta de cabeça quente, te acalma que, no final, tudo vai ficar esclarecido...
- Ta bom, mas eu vou esperar só até amanha. Se ele não me procurar EU NUNCA MAIS QUERO VER ELE!
“lar, doce lar!”
- Amor, eu recebi uma ligação de uma tia informando que minha prima sofreu um acidente de trânsito e está no hospital, por isso vou ter de ir lá vê-la, mas prometo que volto em tempo pra nós almoçarmos juntos.
- O quê? Nem pensar, eu vou junto contigo, afinal é no mesmo caminho do restaurante, e de lá vamos comemorar nossa primeira semana de reencontro!
- Ok, se tu queres assim. Então vamos aproveitar que a chuva deu uma “estiada” e vamos logo.
“Silêncio, hospital!”
- Oi, primo, que bom que tu veio me ver!
- Pois é priminha, o que andou fazendo se queres te matar, por que não arranja uma maneira mais fácil?
- Ei, vira essa boca pra lá! Mas e aquela lá fora,quem é, veio contigo?
- Aquela toda molhada? É uma antiga namorada. Ela não quis entrar pra falar contigo porque é muito tímida. Tu imagina que ela me deixou de uma hora para outra, sem mais nem menos, só pra casar com um tolo, mas como o cara deu o fora, ela acabou voltando correndo pra mim...
- Casar? Casar, casar... Ah, sim, lembrei! Sabe que tinha um cara aqui nessa cama do lado que também foi atropelado? E o triste é que foi bem no dia do casamento dele. O filho dele, que vinha todo dia visitá-lo, foi quem me disse. A Polícia ainda não conseguiu descobrir quem o atropelou e fugiu sem prestar socorro. Ele morreu hoje de manhã!
- Que pena, mas o que vai se fazer, não é mesmo? São coisas da vida...
- Pois é, mas por que será que ela nunca veio vê-lo? Muito estranho pra quem estava de casamento marcado...

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