domingo, 18 de abril de 2010

Educação, Engenharia, Esforço Legal

    Meus doze anos de "pé-no-asfalto" estão guardados em parte da minha memória operacional, onde Freud diz que ficam 'recalcadas' e teimam, por vezes, em sair sob forma de 'pulsões atemporais', sobretudo quando visitamos Morpheu...

    Relembro (não digo recordar, pois isso implicaria, afetivamente, em retornar ao coração) a primeira vez em que fui socorrer um acidentado e precisei tirar o cérebro do guri com uma pá de acrílico, pois grudado estava no asfalto, tal qual chiclete em tamanco. Lembro de outro que aterrorizadamente abraçou-me implorando a não morrer, outra que pediu para dizer ao marido, aos filhos que AMAVA-OS MUITÍSSIMO, crianças ao solo, tamanha dor, impossível escondê-la, impossível não lembrar dos filhos, dos netos, da VIDA!

    Que academia de polícia, que escola de vida ensina a um policial como chegar ante uma mãe e dizer a ela que seu filho jaz à beira da estrada, no asfalto, morto ao relento e, na assustadora maioria das vezes, por jovens inconsequentes (sim, não esqueçamos que são estes a esmagadora cifra de protagonistas homicidas) que matam, matam e continuam matando [em tese, homicídio culposo, quando muito, dolo eventual] impiedosamente a despeito de campanhas pífias, descontextrualizadas que, quando muito, alteram o ânimus mormente até sair da visão do agente punitivo. [talvez a 'Anomia Piagetana' possa dar conta desse comportamento humano?!].

    Quem de nós, policial rodoviário, já não fez palestras em escolas, clubes, empresas, universidades? Quem de nós já não colocou um veículo retorcido, estraçalhado, em via movimentada? Que de nós já não expôs indumentárias, brinquedos, documentos, CRUZES em locais de grande tráfego de pessoas e veículos, com o intuito senão outro de modificar o status quo, o comportamento agressivo, irracional de motoristas e pedestres que consome milhões de reais de impostos, ocupa leitos hospitalares que poderiam estar disponíveis a outros necessitados e ainda causa enorme prejuízos ao trabalho??? Quem de nós, policiais, cônscio de seus direitos e deveres, comprometido com a dignidade da vida humana, já não ouviu uma pseudo-assertiva de que deveria, isto sim, estar "caçando bandido e não multando (SIC) indefesos motoristas"? Afinal, onde estaria a conceitual sinonímia orientação/educação/fiscalização tão propalada no CTB? 

O policial é assim, antes parte intrínseca, real e indivisível, anteparo indissociável da sociedade onde age, atua, lavora e convive. Espécie de clínico-geral, caixa de pândora das mazelas sociais, da Lei e dos costumes, superego, bastião último entre a libido e o ego social proeminente.

RS,  18Abril2010
  BlogGadyano

2 comentários:

  1. Ótimo texto! ´Parabéns pelo site, Ten Bayerle, um incansável lutador pela instituição e pela sociedade. Um abraço.

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  2. Parabéns!
    Creio que a profissão do policial em Deus, é também um sacerdócio. Uma oportunidade de fazer o nome do Senhor engrandecido. Na hora da dor, da perda, da falta de perspectiva, um policial temente a Deus, pode ser a única pessoa que oacidentado tenha. Quanto as palavras ferinas são próprias dos maus cidadãos. porqueo bom cidadão quer mais que alei se cumpra, seja no trânsito ou numa ação de bandidagem.
    Que Deus o abençoe!

    http://cleuzano.blogspot.com

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