sábado, 26 de março de 2011

REssentimentos

                                      "Guardar ressentimentos é como tomar veneno e esperar que quem nos magoou morra."
Shakespeare


  Não é incrível como nós, serem humanos, temos a capacidade (inata!?) de guardarmos mágoas profundamente? Como, rapidamente, esquecemos das coisas boas que nos fazem ao passo que aquelas que nos causam desconforto, tristeza e rancor são perpetradas rapidamente "ab immo corde?" Pouco lembramos do semblante daquele ser que tanto bem nos fez, ah, mas aquele que nos causou tamanha amargura e dor, esse jamais será esquecido em nossas orações!
  E assim vivemos, com o coração quebrantado, alimentando a chama ardente a cada vez que nos deparmos com nossos algozes.
  Outrora tive um chefe "carrasco", petulante, arrogante, por vezes pude ver em seus olhos o brilho do seu prazer pela maldade e a satisfação que sentia em submeter seus subordinados a tamanha aflição, terror e sarcasmos.
  Chronos é inexorável. Tempos depois perdeu o castelo, os conselheiros sumiram dissimulados na bruma politiqueira, a guarda palaciana foi servir a outro senhor; até mesmo seus súditos o desempararam.
  O destino, a vida e as andanças fizeram com que por vezes eu cruzasse com aquele chefe, ora taciturno, carrancudo, atribulado, como que a carregar todo o peso de suas ações e omissões. Ao avistá-lo, enveredava por outro caminho, trocava de calçada, olhava para o outro lado, atendia ao telefone... tudo para não dar-lhe a satisfação de um reconhecimento, um afeto, embora isso sempre tenha causado mais mal a mim do que a ele...
  Eis que dias desses, parado em local de grande fluxo de pessoas, estava a conversar com outro amigo, quando surge a nossa frente o antagonista, de imediato saudado a viva voz pelo meu colega. Não restou-me outra alternativa senão saudá-lo também, o qual deu-me um apertado abraço e confidenciou lembranças dos tempos em que ombreávamos juntos. De início fiquei um tanto quanto constrangido, mas com o desenrolar da nostálgica conversa a três, fui ficando mais "leve", mais tranquilo, como que se uma carga funcional de tanto tempo houvesse desembarcada de meus ombros. Seguimos nossor rumos e, quando nos encontramos, acenos, apertos de mãos, às vezes um abraço e até mesmo um cafezinho no bar da saudade.
  Sigo meu caminho, agora consciente de ter feito a coisa certa, pois julgava cobrar uma conta que não era minha. Tampouco serei eu o 'cobrador' do destino e das incertezas da humanidade.

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